A unidade na verdade, e a verdade em unidade


Nos últimos dias, tenho escrito vários artigos falando sobre diversidade e diferenças na Igreja de Cristo a partir do livro de Atos. Isto tem sido feito desde vários pontos de vista. Hoje, escreverei sobre o tema da unidade na Igreja de Cristo.


Se observamos a questão da unidade, observamos que a maioria de pessoas desejam tal unidade nas suas congregações locais, já que ninguém deseja viver em constante tensão na sua igreja local. Isto acontece até certo ponto a nível denominacional. Ainda que sempre surgem os partidos que desejam mudanças na denominação, ou jurisdição local, com o desejo de que a igreja particular possa refletir sua posição. Infelizmente, qualquer idéia de unidade além das fronteiras denominacionais, se considera quase uma heresia, ou talvez sem o ‘quase.’

Eu tenho tentado perceber e buscar unidade, ainda que seja no espírito, com aqueles irmãos e igrejas que tenho mais coisas em comum que diferenças. Não estou falando que pensemos totalmente igual em todas as questões, mas encontro muito mais coisas que nós temos em comum e nos une que nos separa. Nem sempre meu desejo tem sido respondido, como esperava, contudo seguimos trabalhando para o Reino de Deus.

Faz um tempo, manteve contatos oficiais com várias igrejas cristãs no Brasil para explorar a possibilidade de caminhar a um maior entendimento entre elas. Tivemos algumas respostas positivas no Nordeste; infelizmente, eventos inesperados impediram o desejo de avançar adequadamente até hoje. A esperança de buscar a unidade entre os anglicanos evangélicos e ortodoxos, segue sendo um desejo no coração de muitos.

A igreja reformada (da qual sou bispo), ainda com sua clareza de posições e firmeza de idéias, também deseja liderar a urgente necessidade da unidade para enfrentar o desafio da missão e da evangelização do Brasil para a glória de Deus. Algumas pessoas tem conseguido estabelecer uma congregação com várias pessoas, e acreditam ser a salvação do mundo. Nós entendemos que a salvação do mundo está nas mãos de Deus, e que por muito que cresçamos e sejamos saudáveis na nossa doutrina e missão, seguiremos precisando de todos os irmãos e igrejas que formam a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica. Isto é considerado coisa de liberais ou, talvez, neo-ortodoxos por muitos, eu tenho certeza que forma parte do propósito de Deus para Sua Igreja Visível. Afinal, se todos temos em mente as questões necessárias para a salvação, temos o mesmo espírito e compartilhamos a mesma fé; então, vamos trabalhar juntos e conseguiremos levar adiante a missão de Deus de forma mais eficiente e efetiva para a glória de Deus.

Infelizmente, alguns tem dificuldades com esta idéia. Preferem colocar as doutrinas e idéias preferidas sobre a doutrina real de unidade na Igreja de Cristo. Sendo que este é um ensino claro e proeminente de Cristo e seus apóstolos. O desejo deles para que o povo de Deus seja unido e, inclusive, a unidade, chega a ser usada para definir a verdadeira Igreja (João 17).

Algumas das diferenças entre os Reformados hoje


Várias são as questões que causam dificuldades para buscar unidade entre as igrejas além das fronteiras e linhas de denominações. Evidentemente, a primeira dificuldade a ser considerada são as diversas tradições reformadas: congregacionalistas, presbiterianos, reformados holandeses, reformados húngaros, anglicanos reformados, batistas reformados, etc. A diferença entre estas diversas tradições vai além das suas confissões de fé. Ainda que cada um delas afirma e subscreve com maior, ou menor, importância uma das muitas confissões de fé dentro da tradição reformada.

Contudo, a tradição não se limita somente a questões de confissão de fé, ainda que muitos desejam pensar que seja assim. Também, inclui hoje em dia a história de tais tradições e igrejas particulares. Muitas delas tem vivido episódios de cisma e divisões que tem causado muito dor, e maiores dificuldades. Portanto, nem sempre existe o desejo de sarar as feridas causadas por tais situações, e superar os conflitos passados para buscar uma maior unidade que dê como resultado uma capacidade maior para pregar o evangelho e discipular as nações.

Entendo as dificuldades de buscar unidade com aquelas igrejas particulares, ou nacionais, que tem abandonado as doutrinas necessárias para a salvação, mas não entendo quando as diferenças se encontram em questões indiferentes à salvação.

Descobri no ano passado que o maior impedimento para unir duas igrejas reformadas, as quais hoje são quase idênticas, era o fato de que cada uma delas tinha sua própria história. Estas igrejas deveriam considerar o bem maior (o ensino das Escrituras) que é o Reino de Deus, em vez das questões dos homens. Entenderia se houvesse divergências em confissão de fé, ordenação feminina, dons espirituais, liberalismo teológico, ou governo da igreja, mas concordam em todas estas questões.

A situação triste é que as confissões de fé foram criadas para unir os cristãos, e não para causar divisões e conflitos, infelizmente o ser humano não precisa de muito para seguir seu próprio caminho e separar-se. Não devemos estar surpreendidos com este fato, já que começou no Éden quando Adão e Eva preferiram seguir seu entendimento, em vez de obedecer a Deus (Gênesis 3). 

Isto me leva a refletir em outra questão que separa as igrejas particulares: o governo da igreja. Muitos ressaltam que não é possível que não podemos nos unir devido a que temos diferentes governos na igreja. Ironicamente, Jesus Cristo enviou os doze apóstolos e ensinou a importância do governo da igreja, não enfatizando uma forma de governo, mas o fato de que a importância do governo era para manter e preservar a unidade da igreja. Este era o desejo e propósito de Jesus, quando vieram as decisões do Concílio de Jerusalém e outras no livro de Atos.

Os Reformadores tinham claro que o governo da igreja era uma questão indiferente para a salvação, já que entendiam que as Escrituras não ensinavam uma forma particular de governo. Infelizmente, esta questão mudou nas controvérsias do século 17. E começou a surgir a idéia que certa forma de governo (episcopal ou presbiteriano) fosse necessário para identificar e ser igreja, causando um conflito onde as Escrituras não mostram uma resposta definitiva e clara. Na Reforma Protestante, este debate foi definido por três palavras ‘esse,’ ‘bene esse,’ e plene esse.’

‘Esse’ indica aquilo que é da própria essência da vida da igreja, sem ele não existe a Igreja de Cristo. ‘Bene esse’ propõe o que é de benefício para a vida da igreja. ‘Plene esse’ marca o que é da plenitude da vida da igreja. Os Reformadores Ingleses eram da idéia de que o Episcopado histórico era para o ‘bene esse’ da igreja, mas não era ‘esse’ da igreja. A Igreja de Roma, as Igrejas Ortodoxas e os anglo-católicos acreditam que a sucessão apostólica é ‘esse’ da igreja, por isso não reconhecem as outras igrejas reformadas e evangélicas, como sendo igrejas, mas no melhor dos casos sendo comunidades cristãs. Interessante é o fato de que existe um movimento dentro dos batistas que defendem que o governo congregacional é o ‘esse’ da igreja, sendo que tal posição encontramos também entre alguns calvinistas em referência ao governo presbiteriano. Contudo, a posição clássica reformada tem sido que o governo da igreja é um tema indiferente, ou secundário às questões essenciais da fé cristã. As igrejas anglicanas nunca tiveram uma única posição a respeito desta questão.

A verdade é que o governo da igreja precisa ser eficaz em perseverar a unidade da igreja, edificar o corpo de Cristo e fazer discípulos maduros em Cristo. O problema é que existem muitas ocasiões onde terminamos tirando o bebê com a água. Já que a unidade da Igreja de Cristo é uma doutrina fundacional, e a preservação dessa unidade na igreja era importante e segue sendo nos dia de hoje. A questão de como se obtém tal unidade pode variar de tempos em tempos, como vemos em vários modelos bíblicos, mas a unidade é ultimamente uma doutrina muito importante na Igreja de Deus.

Eu sei que o governo sinodal sobre a liderança do Episcopado histórico ajuda a que isto seja verdade, porque não se encontra o poder unicamente em mãos de um só indivíduo. Ainda que possa parecer que o episcopado seja o poder de um só homem, a verdade é que o Sínodo tem a autoridade de decisão, como observamos em Atos 15. O Bispo preside e pastora a igreja particular, mas ele deve submeter-se às decisões do sínodo e dar contas dos seus atos, como fazia o apóstolo Paulo.  

Se somos capazes de promover a unidade com sucesso, existirá a benção de Deus que nos ajudará a pregar o evangelho com poder e autoridade sobre as fortaleças do inimigo que se levantem contra nós. Por isso, respeito e aprecio o esforço que os Reformadores Ingleses mostraram para manter o governo episcopal como ‘bene esse’ da Igreja de Cristo, porque criaram um sistema de governo onde toda a igreja participa ativamente na tomada de decisões, colaborando na missão da igreja e na obra de Deus. Se promove e preserva a unidade, porque existe um sistema simples, bíblico e que traz equilíbrio, o que permite que juntos caminhemos adiante e as decisões sejam tomadas de comum acordo. Assim, a unidade se promove, a comunhão cresce, e a eficácia e efetividade da missão é clara e evidente.


A Comunhão começa com Deus


Em 1 João 1:3, lemos, “Sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” Este texto bíblico nos mostra a importância da comunhão e, inclusive, a urgência de promover a unidade na Igreja de Cristo, já que esta surge do próprio coração de Deus. De fato, a Trindade é o máximo exponente desta unidade que convive em perfeito amor entre as três Pessoas da Divindade.

O princípio é a comunhão que existe entre os eleitos e Deus. E o efeito é o seguinte, se tenho comunhão com Deus, e você tem também comunhão com Deus, então temos comunhão um com o outro. Deus é que permite que exista comunhão entre nós, e uma conexão espiritual entre nós, porque formamos parte do mesmo corpo, a Igreja, e somos filhos de Deus pela morte de Jesus Cristo na cruz por nós e os nossos pecados.

Todos os que somos membros do povo de Deus, e pertencemos a Deus, devemos apreciar e respeitar a comunhão dos santos; em outras palavras, a comunhão que temos uns com os outros e com a Igreja universal presente, passada e futura. Infelizmente, isto não é assim hoje em dia. Temos prostituído a igreja para que ela nos dê aquilo que desejamos, gostamos e queremos, sem importar se realmente é o propósito de Deus para Sua Igreja.

Permita que faça esta pergunta ao leitor, “será que você só conhece cristãos na sua igreja? Ou também conhece cristãos em outras denominações?” Eu posso nomear muitos cristãos que conheço de outras igrejas, algumas das quais tem diferenças consideráveis com a minha, mas eu sei que somos irmãos em Cristo e formamos parte do mesmo corpo, a Igreja de Cristo. Aqueles que somos verdadeiros cristãos, separados aqui e ali, e dispersos nas mais variadas denominações cristãs, devemos considerar que temos irmãos em uma grande variedade de igrejas cristãs. A maioria dos cristãos entendemos e acreditamos nisto. Também, a maioria de cristãos acreditamos que não existe uma só denominação que represente unicamente e plenamente a Igreja de Jesus Cristo, una, santa, católica e apostólica. Esta Igreja que é visível e presente, infelizmente se encontra dividida em milhares de igrejas ao redor do mundo.  Também é verdade que, em meio das igrejas cristãs, existem tais igrejas que não podem ser consideradas como parte da Igreja de Cristo, nem parte da cristandade.

Aqueles que somos parte do povo eleito de Deus, reconhecemos que todos pertencemos a Deus e que temos irmãos nas mais diversas igrejas cristãs, e que todos podemos aprender uns com os outros, como a igreja de Jerusalém do apóstolo Pedro, e o apóstolo Pedro aprendeu do apóstolo Paulo. Assim, não temos responsabilidade somente com Deus na nossa comunhão, mas também temos uma responsabilidade uns com os outros.


Aprendendo a partir da Igreja de Coríntios


Em 1 Coríntios 1, que é um dos capítulos chaves para falar e entender sobre a unidade da igreja, ou, talvez, deveríamos falar de divisão. “Fiel é Deus, por quem fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9). Aqui encontramos os mesmos argumentos que acabamos de falar sobre a epístola do apóstolo João. Somos chamados a ser parte dos eleitos para a comunhão com Jesus Cristo, como nosso Senhor e Salvador. Todos os verdadeiros cristãos formam parte desta unidade em Cristo.

“Irmãos, rogo-vos em nome de nosso Senhor Jesus Cristo que entreis em acordo quando discutirdes, e não haja divisões entre vós; pelo contrário, sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10). Encontramos vários ensinos essenciais que todo cristão precisa obedecer, se deseja ser fiel a Deus. Este é sem dúvida um deles, “sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer.” É surpreendente como tal claro ensino é esquecido pela Igreja de Cristo. Possivelmente, porque é muito mais difícil do que pensamos e imaginamos, e requer um maior esforço por parte de todos nós para ser fiéis em Cristo.

O fato é que a unidade da Igreja de Cristo vai acontecer neste século, ou nos próximos, ou quando Jesus Cristo volte para julgar os vivos e os mortos. Este forma parte do propósito de Deus para a Sua Igreja. A questão é se entendemos tal propósito e desejo de Deus, ou se vamos seguir os caminhos que temos marcado pelas próprias aspirações humanas, ainda que se apresentam como espirituais.

Estamos chamados a representar Jesus Cristo e seu caminho de vida, assim devemos fazer isso conforme os ensinos de Jesus Cristo. Jesus Cristo falou que a unidade é uma das marcas pelas quais seremos identificados, como discípulos dele. Em outras palavras, o que acreditamos e vivemos, e aquilo que ensinamos e como tratamos uns aos outros, será o que vai permitir aos outros identificar-nos como verdadeiros filhos de Deus.

Em 1 Coríntios 1.11, lemos “existem discórdias entre vós.” Imediatamente depois, começa a descrever as discórdias e divisões que existem entre eles. Em poucas palavras, tais discórdias são frutos de que os cristãos de Coríntios seguem homens, em vez de ser Cristo o centro deles. Me faz pensar se não existe um pouco disso hoje em dia entre as igrejas. Alguns são de Martinho Lutero, outros de Tomas Cranmer, inclusive temos aqueles que são de João Calvino, ou John Knox, ou João Wesley, e assim até os dias de hoje. Que é o que causa as divisões? Por que estamos em discórdias? Será que estamos dispostos a obedecer as Escrituras inclusive quando isso requer morrer a nós mesmos?

Inclusive se temos diferentes julgamentos e diferentes formas de entender o culto, a prática, o governo e alguns pontos indiferentes de doutrina, devemos estar sujeitos a Deus de buscar o bem comum e, assim, perseverar na unidade da Igreja. De novo, devemos estar unidos à videira para assim ser fiéis a Cristo. Se estamos unidos a alguma rama ou folha, poderemos ser qualquer coisa, exceto um discípulo de Cristo.

Se você me pergunta sobre a importância que tem os Pais da Igreja e os Reformadores na vida da igreja, precisamos sim conhecer e ler a respeito dos homens de Deus que caminharam antes de nós, e aprender com eles. Contudo, nunca devemos fazer deles e dos seus ensinos o centro da vida da Igreja de Cristo, nem nossas vidas. Eles nunca teriam aprovado tal atitude, nem apoiado tal comportamento. Por isso, não devemos nunca cair na mais mínima tentação de colocar homens onde somente Cristo deve estar.


A unidade da fé


Em Efésios 4, encontramos um dos textos mais curiosos das Escrituras, e que tem causado numerosas doutrinas bizarras nos tempos atuais. Este capitulo de Efésios trata do propósito do ministério e dos dons ministeriais dentro da Igreja. A dificuldade do texto surge porque não são poucos que confundem dons ministeriais e ordens sagradas. Se você não consegue diferenciar ambos, vai confundir o que o texto está tentando ensinar.

Jesus Cristo deu à igreja uma série de dons ministeriais para que a Igreja pudesse crescer em maturidade. Assim, quando Jesus ascendeu ao céu, deixou cinco ministérios na Igreja, “assim, Ele designou alguns apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11). Lendo este texto sem mais, podemos pensar que está falando de ofícios e ordens da Igreja, já que quando lemos sobre apóstolos imediatamente pensamos nos doze apóstolos. Contudo, observamos que existiam outros apóstolos na igreja primitiva que tinham a função de começar nova obra onde não tinha presença a Igreja e, por outro lado, não tinham a autoridade dos doze apóstolos e Paulo. Se percebemos, em nenhum momento o Novo Testamento mostra os profetas sendo iguais na autoridade e ministério que eram no Antigo Testamento, já que os Profetas eram um ofício no Antigo Testamento, enquanto lemos que os profetas são mais um dom entre os cristãos. Respeito os evangelistas, Estevão era um evangelista (o seu dom), mas era diácono (sua ordem ou ofício). Este seria um caso claro do que desejo mostrar. Existem ordens (diáconos, presbíteros e bispos) e existem dons (apóstolos, profetas, evangelistas, mestres e pastores). Por um breve período de tempo, os dois se encontraram nos doze apóstolos, já que eles tinham a ordem e o dom de apóstolos. Ainda que também observamos que os apóstolos operavam nos cinco dons de Efésios 4. Sendo assim, resulta curioso que as igrejas evangélicas tenham cometido um erro de tal gravidade, chamando a ordem e ofício de presbítero de ‘pastor.’ O ministro ordenado da igreja local sempre é chamado de ‘pastor,’ quando na verdade encontramos que as Escrituras definem como presbítero, já que qualquer pessoa que pastoreia e cuida das ovelhas tem o dom espiritual de pastor e pode ser considerado assim. A dificuldade é uma sociedade, como a brasileira, onde as pessoas estão preocupadas com os títulos e os diplomas, muito mais do que estão de servir a Cristo e a Sua Igreja. Finalmente, o dom de mestre pode ser visto de muitas formas e lugares, nos seminários teológicos, escolas dominicais, estudos bíblicos, teólogos, autores cristãos, entre outros.

Se não entendemos esta diferença entre dons ministeriais e ordens sagradas, podem ter certeza de que alguns erros cometeremos no caminho. Ao mesmo tempo, acredito que a Igreja de Cristo deve voltar a usar a linguagem que encontramos nas Escrituras para referir-nos ao que as Escrituras estão falando. Hoje em dia, usamos certas palavras de uma forma totalmente diferente a como estas são usadas nas Escrituras.

Em Efésios 4, encontramos que tais dons ministeriais existem com um nítido propósito, “com o propósito de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da estatura da plenitude de Cristo. O objetivo é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para o outro pelas ondas teológicas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela malícia de certas pessoas que induzem os incautos ao erro” (Efésios 4:12-14).

Este texto mostra como estes cinco dons ministeriais tem o propósito de que todos os cristãos estejam envolvidos no ministério, sendo assim o corpo de Cristo será edificado e alcançará a unidade da fé e do conhecimento de Cristo. Todos somos ovelhas, e Cristo é o pastor principal, por isso ele tem dado diversos dons para que sejamos amadurecidos e deixemos de ser crianças que seguem a última novidade ou vento de doutrina. Estes dons são entregues não somente àqueles líderes que são ordenados para as ordens sagradas, mas também todo o corpo de Cristo recebe diversos dons espirituais para o bem comum e a edificação da Igreja de Cristo. 

Interessante que o bispo na igreja anglicana é considerado o pastor sobre a diocese que está sobre seu cuidado pastoral e supervisão espiritual. E, ao mesmo tempo, tem a responsabilidade de ensinar e instruir o povo de Deus sobre seu cuidado em toda sã doutrina e combater os erros que surjam na Igreja de Cristo. Ao mesmo tempo, está chamado a pregar o evangelho e promover a causa do Reino, falar contra a iniquidade e as injustiças, e promover nova obra onde ainda a Igreja não esteja presente. Assim, observamos como se entende que o ministério episcopal tem todos estes dons ministeriais presentes na sua ordem e ofício.

A autoridade concedida aos bispos por Deus é para evitar o inevitável. Em algum momento, sempre acontece que alguém dentro da congregação dos fiéis começa a tentar causar contenda e divisão na igreja. Isto pode ser causado por questões de doutrina, do próprio ego ou do desânimo nele. Qualquer que seja a razão que leve esta pessoa a causar discórdia e divisão, os Ministros de Deus tem uma responsabilidade de cuidar da Igreja de Cristo, e tomar cuidado com estas situações. Por isso, tomar decisão deve ser feito com amor, oração e discernimento para ajudar ao irmão a perceber o que está fazendo e ajudá-lo a amadurecer para que não seja levado por novos ventos de doutrina, desejos carnais ou descontentamento por qualquer situação encontrada ou vivida. Agora, não estou questionando a sinceridade e honestidade de muitos indivíduos nestes casos e, às vezes, simplesmente tomaram o caminho errado pelos motivos certos. Por isso, a Igreja de Cristo tem conselhos e procedimentos para resolver quando surgem situações delicadas que precisam ser resolvidas com amor e compaixão, e combater o pecado com firmeza e justiça.

Tem muitos irmãos que tomam ação em boa consciência ou atentos para obedecer a Deus, mas infelizmente eles fazem no seu próprio conselho sem ajuda e direção do corpo de Cristo (a Igreja).

Cada um de nós é responsável pelas nossas ações e daremos contas pelas mesmas diante de Deus. Por isso, devemos tomar decisões de acordo aos ensinos e mandamentos de Deus no dia a dia. Não sejamos impetuosos nas decisões que tomamos, ou impacientes, porque o preço por tais decisões pode ser muito maior do que nunca pensamos quando tomamos a mesma. Sejamos cuidadosos de que não terminemos sendo usados por satanás sem perceber isso. Lembremos que os fins não justificam os meios, e temos que seguir os meios de Cristo para chegar ao fins do Reino; do contrário, não estamos trabalhando em prol do Reino. Nem sei as vezes que tenho visto cristãos bem intencionados seguir sua própria luz, e terminando desaparecendo em meio da sua própria desesperança.

Evidentemente, não podemos resolver os problemas de falta de unidade com as outras igrejas, contudo temos a responsabilidade de ser exemplo, mostrar o desejo de caminhar juntos e estar abertos ao sincero diálogo quando eles desejam conversar conosco.

Um ponto que não desejo esquecer, é que o propósito do ministério, do corpo de Cristo, é designado para manter e perseverar a unidade de entendimento de doutrina, prática, exemplo e capacidade para levar adiante a obra de Deus, já que nunca poderemos fazer isso sozinhos.


Cristo ora por nós


Em João 17:20, Cristo diz, “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que virão a crer em mim pela palavra deles.” Cristo orava por nós, com um só desejo em mente. “para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:21). Se consideramos a perfeita união entre o Pai e o Filho, esta é a perspectiva do nosso Senhor, Jesus Cristo, para com sua Igreja. Em Hebreus 1:3, lemos “Ele é o resplendor da sua glória e a representação exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder e tendo feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas.” Cristo é a representação exata de Deus Pai. A unidade na Trindade é perfeitamente refletida no fato de que Deus é amor, uma comunidade de amor no seu próprio ser.

“Que o mundo creia que tu me enviaste,” esta declaração de Jesus nos leva a considerar o propósito da unidade. Há um exemplo de vida em unidade que vai fazer que as pessoas olhem a Igreja de Cristo, e reconheçam que Jesus foi enviado pelo Pai para a salvação do mundo. Se somos totalmente comprometidos com a verdade e a seguir os ensinos de Cristo, então um novo dia está para ser visto por todos. A oração de Jesus por nós mostra que a unidade do povo eleito forma parte do seu ministério, tal unidade forma parte do perfeito propósito de Deus para a Igreja de Cristo. Fico surpreso como a Igreja de Cristo não é conhecida por como vivem em comunhão e amor, mas como se dividem e tem discórdias entre si. Se observamos nos últimos 200 anos, temos visto mais divisões neste período que nos anteriores 1800 anos, mas se observamos simplesmente nos últimos 50 anos, temos mais divisões que nos anteriores 1950 anos. E se observamos as divisões e cismas desde o início deste século, possivelmente teremos mais divisões e cismas que nos 20 séculos anteriores. Portanto, alguma coisa está errada na concepção dos líderes e ministros cristãos nestes dias.

Cada um de nós tem a responsabilidade de aprofundar nossa comunhão com Deus, o que causará imediatamente uma maior comunhão uns com os outros. E, também, nos ajudará a crescer uma só mente e comum pensamento com os outros que tem verdadeira comunhão com Deus. Assim estamos promovendo unidade pela forma que nos comprometemos com a verdade, como Deus nos tem revelado ela, permitindo paciência e os frutos do Espírito nos ajudam a ir além dos nossos pensamentos, idéias, doutrinas e teorias, que nos podem separar da videira verdadeira. 

Tenho minhas sérias dúvidas que Deus seguirá permitindo a longo prazo que grupos de cristãos continuem competindo entre eles, em vez de ser fiéis à missão de Deus, e somente olhando o seu próprio trabalho sem ver a urgente necessidade de unidade e promover a mesma com um coração agradecido, como servem a Deus e a forma em que se amam e cuidam uns dos outros.

Tenho sofrido suficientes abusos e atitudes inimagináveis contra mim, causadas por outros cristãos, que deveria ter razoável motivos para nunca mais querer falar de unidade. Contudo, com a ajuda de Deus, tenho percebido que esta é a vontade de Deus e, assim, tenho submetido minha vontade à vontade de Deus, desejando agora a unidade entre os irmãos, inclusive àqueles que tentaram destruir-me.

Por certo, não devemos entender a unidade da Igreja de Cristo com atitudes erradas como “vive e deixe viver,” porque a verdadeira unidade cristã não vêm através de uma união de interesses, ou desejo de poder e grandeza.

Deus vai trazer todos aqueles que são Seu filhos a ser parte da Igreja de Jesus una, santa, católica e apostólica. A responsabilidade de cada um de nós hoje é ser capazes de participar dos planos e propósitos de Deus, conforme Deus deseja que participemos e somente para a glória de Deus. Assim, aceitamos Sua liderança e direção para que ele faça sua perfeita obra em nós e sejamos aquilo que Deus deseja fazer, assim juntos poderemos ser verdadeiramente a Igreja de Cristo, o sal da terra e a luz do mundo, e não simplesmente outra organização de homens.

“Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança do vosso chamado; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por todos e está em todos” (Efésios 4.4-6)

Esta unidade será possível quando estejamos dispostos a viver esta simples verdade, tanto individualmente como igreja, dispostos a mostrar nossa fragilidade e sendo humildes para aceitar que o irmão, talvez, tenha coisas as quais devemos aprender e crescer na fé em Cristo. Isto acontecerá quando todos nós cresçamos mais plenamente na “medida da estatura da plenitude de Cristo.”

Unidade e verdade são importantes para Deus. E devem ser importantes para todos nós.


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