Podemos considerar o batismo na Igreja de Roma válido?


De tempos em tempos, escuto comentários ou perguntas como as seguintes: “Será que podemos considerar o batismo feito pela Igreja de Roma como Válido? A igreja de Roma não é apóstata, então como podemos aceitar o batismo deles? É legítimo o batismo deles?”

Estas perguntas, e muitas outras, surgem de dois conceitos que devem ser considerados: (1) que são igrejas apóstatas; (2) que não existe base para batizar devido a que os ministros não são verdadeiros cristãos.

Portanto, se vamos considerar o batismo deles, qual pode ser a base disso? Não estaremos aceitando a autoridade daquele que faz o batismo (i.e., sacerdote romano ou ministro pecador)? Não estaremos reconhecendo a posição doutrinal da Igreja de Roma?   

Existe uma grande preocupação nestas questões, ainda que a Igreja atual tem tomado uma posição que, talvez, seja considerada contrária as Escrituras e os Reformadores. De fato, a maioria de igrejas chamadas “cristãs” não reconhecem o batismo da Igreja de Roma, ou de qualquer falsa igreja.

Os Cristãos Anglicanos temos dificuldades com isso. E gostaria de escrever as razões pelas quais temos dificuldades com a posição tomada pelas igrejas “evangélicas” contemporâneas.
1.     A idéia de que o batismo Romano, ou o batismo de uma igreja apóstata, é inválida, foi uma posição minoritária na fé Cristã, na Reforma Protestante e, inclusive, até bem recentemente pelas igrejas evangélicas não-sectárias. De fato, esta posição foi rejeitada por todos os reformadores (rf. Institutas de Calvino, IV, 15, vi).

Os 39 Artigos da Religião dizem no seu Artigo 26, “Ainda que na Igreja visível os maus sempre estejam misturados com os bons, e às vezes os maus tenham a principal autoridade na Administração da Palavra e dos Sacramentos; todavia, como o não fazem em seu próprio nome, mas no de Cristo, e em comissão e por autoridade dele administram, podemos usar do seu Ministério, tanto em ouvir a Palavra de Deus, como em receber os Sacramentos. Nem o efeito da ordenança de Cristo é tirado pela sua iniqüidade, nem a graça dos dons de Deus diminui para as pessoas que com fé e devidamente recebem os Sacramentos que se lhe administram; os quais são eficazes por causa  da instituição e promessa de Cristo, apesar de serem administrados por homens maus. Não obstante, à disciplina da Igreja pertence que se inquira acerca dos Ministros maus, e que sejam estes acusados por quem tenha conhecimento de seus crimes; e sendo, enfim, reconhecidos culpados, sejam depostos mediante justa sentença.”

Com certeza, isto não prova nada em si mesmo. Porém, vamos ver porque os Reformadores tomaram esta posição.

2.     Se alguém rejeita o batismo romano (ou outro), porque Roma não tem todas as marcas de uma igreja verdadeira, então devemos perguntar como outra igreja protestante que também tem se afastado da verdade, ainda sendo em menor medida, tem seu batismo considerado como legítimo.  Seguindo este pensamento, a lógica nos leva a aceitar o ensino conhecido como Donatismo na Igreja primitiva, a qual defendia, entre outras coisas, que só o batismo de uma igreja que tem todas as marcas da igreja verdadeira é legítima.

3.     Se alguém afirma que o sacramento não é válido, porque sua administração não é Bíblica, podemos dizer que nos vamos encontrar com diversos problemas. Por exemplo, os Batistas e Pentecostais acreditam e afirmam nos seus ensinos que só o batismo administrado por imersão aos adultos crentes é legítimo, será que por isso devemos os Anglicanos (e) Reformados não aceitar o batismo deles?

4.     Se rejeitamos o batismo romano ou de outras igrejas apóstatas evangélicas, porque a pessoa que administra o sacramento está errada, então nem estamos de acordo com as confissões reformadas, nem sua prática, como ensinam os 39 Artigos da Religião ou a Confissão de Fé de Westminster (Romanos 2:28-29; I Pedro 3:21).

5.     Finalmente, não faz sentido rejeitar o batismo de certa igreja ou outra, principalmente se entendemos que o batismo é um símbolo da regeneração (Tito 3.5). Esta é a razão fundamental por que o batismo só pode ser administrado uma vez. Só podemos ser regenerados (nascermos de novo) uma vez. Por este motivo, as igrejas reformadas tem rejeitado o rebatismo, e devem tentar não cair na tentação de chamar o batismo da Igreja de Roma, ou dos anabatistas ou de outros grupos, como ilegítimo.

Ao mesmo tempo, as escrituras são claras ao ensinar um só batismo (Efésios 4:5). Será que tomamos as Escrituras seriamente?
Portanto, se o batismo é administrado no Nome da Trindade, que é conforme o que nos ensinou Jesus Cristo em Mateus 29:19, então não deveríamos rejeitar, ou rebatizar, aqueles que tem recebido previamente o sacramento de Cristo em outra igreja.

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